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A oeste de nada – Edmar Monteiro Filho

Alguns temas, aparentemente esquecidos, voltaram à tona recentemente. Assim, fui buscar uma definição para “geopolítica”, por conta das menções reiteradas ao termo, graças aos acontecimentos nas fronteiras do extinto império soviético. Descobri que a palavra define a relação dos processos políticos e características geográficas dentro dos jogos internacionais de poder entre os Estados e entre Estado e Sociedade. Na atualidade, o termo toca às disputas de influência sobre o território da Ucrânia, nação encravada entre a Europa do Mercado Comum e a Rússia. Justificada por uma maioria de cidadãos de ascendência russa na população da região fronteiriça da Crimeia, a Rússia já promoveu a anexação desse território e, ao que parece, usa do mesmo expediente em relação a outras regiões de fronteira. Mas os interesses sobre as riquezas naturais, além da estratégica posição geográfica da Ucrânia são por demais evidentes nesse caso.
A chamada “Guerra Fria”, travada entre URSS e EUA a partir do final da Segunda Guerra e que quase levou o mundo a um conflito nuclear, chegou – em tese – ao seu final em 1989, com a simbólica queda do muro de Berlim. Digo “em tese” porque, se a ameaça do conflito atômico já não paira de forma clara sobe o mundo, a disputa entre as potências permaneceu acesa em regiões como o Oriente Médio, a África devastada e a América Latina.
Agora, o palco volta a ser a Europa. A União Europeia e os EUA ameaçam os russos com sanções, enquanto estes seguem semeando o conflito fronteiriço e avançando suas peças na tentativa de reconquistar os territórios em litígio. Bem, não sou expert em política internacional para traçar rumos prováveis para esses embates em que a geopolítica está outra vez em evidência. O que me interessa é ressaltar o fato de que os grandes temas que afligem o mundo parecem fadados a uma repetição constante, por conta, não de uma suposta circularidade da História, mas sim de uma incapacidade de solucionar convenientemente as questões cruciais. É por isso que certas discussões são reabertas como feridas mal cicatrizadas. E é também por isso que alguns livros, cuja temática parecia localizada em certo momento do passado, mantém seu vigor e sua atualidade pelo conteúdo e pelo modo como esse conteúdo é discutido.
Advogado, professor universitário, escritor, Julio Cesar Monteiro Martins publicou seus primeiros livros na década de 1970. Posteriormente, deixou o Brasil e radicou-se na Itália, onde continua militando pela literatura, ensinando e escrevendo. “A Oeste de Nada”, lançado em 1981, é talvez sua mais expressiva coletânea de contos. O que transparece a partir da leitura do livro é que esses contos retratam com extrema fidelidade um certo momento da vida brasileira, visitando alguns dos temas mais prementes na ocasião: a transformação dos costumes, levando a uma reavaliação de valores considerados tradicionais; a revolução sexual em curso; a vida nas periferias das grandes cidades; o desencanto com os milagres prometidos pelo regime antidemocrático; a repressão política e a tortura.
A linguagem direta, marcada pela franqueza das abordagens é característica dessa literatura que já perdera o ranço de romantismos e parnasianismos e que colocava corajosamente em pauta questões incômodas. Narrativas como “Xô peru!” usa a gíria usada nas décadas de 1970 e 1980 e trata do universo de surfistas, do sexo livre e das drogas. “O santo Graal” aborda a relação entre um jovem e uma mulher mais velha. “Dominó”, momento maior da coletânea, é um texto repleto de referências freudianas que destrincha os conflitos pessoais de um personagem que se reveza entre as atividades de taxista e palhaço de bordel. O conto título fala das eternas questões fundiárias e do extermínio indígena nas – ainda hoje – conturbadas fronteiras do país.
Se o retrato de um tempo passado, que Julio Cesar Monteiro Martins apresenta em “A Oeste de Nada”, poderia soar anacrônico para uma leitura atual, é surpreendente constatar que o autor, observador acurado de importantes temáticas de seu tempo, provoca o leitor a retomar esses assuntos, justamente porque se assemelham a uma conversa deixada inconclusa e que nos desafia a lhe dar solução.

L'autore

El Ghibli

El Ghibli è un vento che soffia dal deserto, caldo e secco. E' il vento dei nomadi, del viaggio e della migranza, il vento che accompagna e asciuga la parola errante. La parola impalpabile e vorticante, che è ovunque e da nessuna parte, parola di tutti e di nessuno, parola contaminata e condivisa.

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