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As forcas desamadas – Eduardo F. Coutinho

As Forças Desarmadas, o sexto livro de Julio Cesar Monteiro Martins, voz das mais vibrantes da nova geração de ficcionistas que enriquece o panorama da literatura brasileira contemporânea, é um quadro crítico vigoroso da violência do mundo moderno, presente no dia a dia da vida dos grandes centros urbanos.
Neste mosaico de contos cuidadosamente elaborados e marcados por uma profunda penetração psicológico-existencial, o homem é figura central, e é através da tensão que se estabelece entre ele e o deserto pragmático onde habita que se tece a denúncia pungente de um universo de valores estilhaçados.
Seres emocionais e perceptivos, dotados de uma sensibilidade especial que os deixa “desarmados” diante do jogo de interesses inescrupulosos que caracteriza o mundo citadino atual, os personagens deste livro vagueiam solitários em busca de um espaço para respirar, e acabam quase sempre sucumbindo, vítimas de suas próprias emoções, traumatizados e exilados da vida. Entretanto, da luta que se empenham pela sobrevivência na sua práxis cotidiana permanece uma “força” inextingüível, uma luz que vem surgindo pouco a pouco e se infiltra na consciência do leitor, induzindo-o a sério questionamento.
É assim a história do maquilador de “Blush” que, ao ver esvair-se a sua última chance de realização, suicida-se, deixando três cartas em tons e estilos absolutamente diferentes; da cantora de “Garganta”, sugada até às últimas forças para gravar um disco com o fim de ser vendido antes do Natal; do rapaz de “Mobral”, entregue à mercê de bandidos para evitar problemas para o seu explorador; ou ainda do adolescente de “Sortilège” ou do aniversariante de “As forças desarmadas”, que constatam, através do fascínio ou das drogas, as suas próprias limitações.
Todas estas narrativas que compõem o volume são flashes da luta do homem, estas “forças desarmadas”, que o autor, “espião da vida”, flagra em seus momentos decisivos, e recria, com grande dinamismo, através de uma linguagem poderosa e colorida, a que não falta boa dose de humor. Nesta linguagem, vale dizer, a tônica é o diálogo, utilizado abundantemente (quatro dos dez contos da coleção são inteiramente constituídos de diálogo) e com grande maestria.
E assim como a linguagem, também os recursos da técnica narrativa são empregados pelo autor com seguro domínio. Servindo-se de técnicas distintas, que vão desde o realismo mais linear, extraído da própria observação, até o registro quase automático de lampejos do inconsciente humano, e mesclando, com freqüência, estilos como o trágico, o cômico e até o grotesco (e.g. as cartas de “blush”), Julio Cesar oferece-nos uma obra de primeiríssima qualidade, confirmando a sua posição, já conquistada com os livros anteriores, de escritor de mérito incontestável, e empreendendo um passo decisivo na sua ainda curta, mas já sólida, trajetória literária.

L'autore

El Ghibli

El Ghibli è un vento che soffia dal deserto, caldo e secco. E' il vento dei nomadi, del viaggio e della migranza, il vento che accompagna e asciuga la parola errante. La parola impalpabile e vorticante, che è ovunque e da nessuna parte, parola di tutti e di nessuno, parola contaminata e condivisa.